Trocar a solidão pelo silêncio

Tenho vivido um momento bastante peculiar em minha vida. Durante muito tempo, passo horas, dias, semanas, inteiramente só, em lugares estranhos, sem pessoas conhecidas e longe de meus entes queridos.
Passei algum tempo querendo voltar, outro tempo em dúvida sobre o que fazer. Mas dentre todas as interrogações, permaneceu uma constatação: a de que me sinto sozinho.
Já fiquei só outras vezes. Mas depois de muita solidão, veio - isso recentemente - uma pequena descoberta, ou algo que me pareceu como tal. Como disse, já fiquei só outras vezes, especialmente em momentos junto à natureza ou em descobertas culturais bastante significativas. Nesses momentos, entretanto, a palavra "solidão" não se aplicava.
Não haviam pessoas conhecidas por perto e eu estava realmente sem compania. Mas, a despeito disso, não me senti só. O que ocorria era uma espécie de silêncio. E esse silêncio dizia respeito a uma atitude psicológica: uma espécie de atenção não concentrada em carências ou no próprio elemento da solidão, mas sim na imensa carga de aprendizado que aquelas experiências traziam, ou mesmo, a atenção que exigiam.
Quando se faz montanhismo ou travessias a solidão não é, no fundo, solidão. Ela é silêncio, mas esse silêncio significa, sobretudo, uma abertura ao que se situa ao redor.
É exatamente esse o "ingênuo" aprendizado que tive há pouco. Estou só, incrivelmente só. Mas a solidão é o sentimento no qual tagarelamos sobre nossa própria solidão, assumimos nossa carência, demandamos que outro supra esse vazio. Já o silêncio demanda, com ou sem outros por perto, algum aprendizado. De algum modo, estar em silêncio não é a mesma coisa que estar só. Um pouco como mostram alguns poemas, bastante bem-humorados, de Paulo Leminski:
Não haviam pessoas conhecidas por perto e eu estava realmente sem compania. Mas, a despeito disso, não me senti só. O que ocorria era uma espécie de silêncio. E esse silêncio dizia respeito a uma atitude psicológica: uma espécie de atenção não concentrada em carências ou no próprio elemento da solidão, mas sim na imensa carga de aprendizado que aquelas experiências traziam, ou mesmo, a atenção que exigiam.
Quando se faz montanhismo ou travessias a solidão não é, no fundo, solidão. Ela é silêncio, mas esse silêncio significa, sobretudo, uma abertura ao que se situa ao redor.
É exatamente esse o "ingênuo" aprendizado que tive há pouco. Estou só, incrivelmente só. Mas a solidão é o sentimento no qual tagarelamos sobre nossa própria solidão, assumimos nossa carência, demandamos que outro supra esse vazio. Já o silêncio demanda, com ou sem outros por perto, algum aprendizado. De algum modo, estar em silêncio não é a mesma coisa que estar só. Um pouco como mostram alguns poemas, bastante bem-humorados, de Paulo Leminski:
amar: armas debaixo do altarpara frei betto e frei leonardo boff
santa é a gente
quando lá fora faz frio
e aqui dentro está quente
-- entre! Digo eu,
hora de ser igual,
hora de ser diferente,
entre você e entre
ou ainda
ainda ontem
convidei um amigo
para ficar em silêncio
comigo
ele veio
meio a esmo
praticamente não disse nada
e ficou por isso mesmo