terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Saboro Nossuco e Lao Tsé



Saboro diz que certa vez Lao Tse, o autor do livro de Tao, recebeu a visita de um importante e riquíssimo mercador, que queria muito conhecer o seu habitat e o seu modo de viver.

Assim que pôs os pés na pequena e humilde cabana, o rico mercador esbugalhou os olhos, surpreso com tanta simplicidade e desapego, pois nada havia além de uma cama, uma mesa, duas cadeiras e uma prateleira com livros.

- Onde estão os seus bens, Mestre?

- !!

- Quero dizer, onde estão os seus móveis?

Lao Tse olhou à sua volta e alegremente perguntou:

- E onde estão os seus?

- Os meus?! Mas eu estou aqui só de passagem!

- Eu também… – disse Lao Tse, abrindo um largo sorriso.

(Polaco da Barreirinha)

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quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Visões do Monte Kailash e peregrinos tibetanos







For Tibetans, pilgrimage refers to the journey from ignorance to enlightenment, from self-centeredness and materialistic preoccupations to a deep sense of the relativity and interconnectedness of all life. The Tibetan word for pilgrimage, neykhor, means "to circle around a sacred place," for the goal of pilgrimage is less to reach a particular destination than to transcend through inspired travel the attachments and habits of inattention that restrict awareness of a larger reality

(...) By traveling to sacred sites, Tibetans are brought into living contact with the icons and energies of Tantric Buddhism. The neys, or sacred sites themselves, through their geological features and the narratives of transformation attached to them, continually remind pilgrims of the liberating power of the Tantric Buddhist tradition

(...) Over time pilgrimage guidebooks were written, giving instructions to pilgrims visiting the holy sites and accounts of their history and significance. These guidebooks, neyigs, empowered Tibet and its people with a sacred geography, a narrated vision of the world ordered and transformed through Buddhist magic and metaphysics.

Kelly, Thomas and Carroll Dunham and Ian Baker; Tibet: Reflections from the Wheel of Life; Abbeville Press; New York; 1993 [fonte]

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quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Lévi-Strauss, Pensamento e Mundo



"Era no campo da filosofia que se podia encontrar esses estudiosos. Mesmo Paul Nizan foi tentado um momento, e quando me contou tive em seguida o sentimento de que era por aí que gostaria de me orientar, de não apenas fazer um curso de filosofia pelo resto de meus dias, mas igualmente ver o mundo, pois sempre fui apaixonado pelo camping, andar à pé, um pouco de alpinismo, e também o desejo de conhecer outros territórios."

Claude Levi-Strauss, em entrevista de 1972 editada por Pierre Beuchot para o Arte.

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quinta-feira, 15 de outubro de 2009

O Comum, Incomum

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Em seu belo A Peste, ganhador do Nobel de literatura de 1957, Camus enuncia uma de suas fortes passagens: “Nenhum amor é bastante forte para expressar-se”. Sendo o amor a expressão de afeto entre duas pessoas, como tal frase seria possível?

Talvez Camus se referia a nenhum amor ser de fato verdadeiro, suficientemente afirmado para se exprimir enquanto amor. Ou também o contrário: há casos nos quais o amor é tão efetivo que, à sua expressão, talvez se prefira o silêncio. Entre o significado aberto nas duas linhas, a frase deixa um jogo de reversibilidades muito produtivo para quem se ocupa, com seus escrúpulos de governar os outros por reduções ad hominem, em interpretar algum eventual orador.

Mas o importante parece ser essa não definição do significado, na distância entre o amante e o amado. Existiria aproximação possível, um amor “bastante forte” para “expressar-se”, sair do emissor e chegar no receptor com a mesma força emotiva? Entre um e outro há algo que se possa chamar de “um mesmo”? Tudo indica, na frase, o quanto numa relação de amor o amante e o amado são “incomensuráveis”, para usar uma palavra empregada por Maurice Blanchot.

E quando duas pessoas se apresentam deliberadamente como amantes? Elas superam esse abismo entre um e outro? Como se faz a passagem entre um e outro?

Certamente um casal de amantes se declarando como tal hoje possui qualidades totalmente diferentes dos casais de 40 anos atrás. Mas, de algum modo, esses de hoje e aqueles de ontem declaram “amar”. Os amantes de hoje “amam” em um plano bem diverso daquele – em um mundo no qual trabalho, moradia, relações de gênero, amizade, família, e até a estabilidade e durabilidade dos vínculos não mais se colocam, na teoria e na prática, nos mesmos termos. Entre os amantes, algo se passa. E esse algo é diferente, caso examinemos nossos avôs, uma peça de Shakespeare, ou nós mesmos.

“Entre” os amantes se passa algo que não pertence a nenhum deles, mas de alguma forma põe o tabuleiro, as peças e as regras do jogo amoroso. Por um lado chamamos esse “algo” de situação, contingência. Nascemos em um mundo onde não detemos todas as regras, mas de algum modo os caminhos não deixam de ser abertos para trilharmos, a favor ou contra elas. Nesse sentido há relativamente uma arte em viver, criar caminhos em um mundo de regras prévias, mas também de trilhas imprevisíveis.

Mas isso não é tudo. Por outro lado, nosso “amor” (vida, vínculos) se põe em um conjunto de regras prévias muito especial, não restrito apenas à constatação de que vivemos em uma “situação” entre outras. Vivemos numa época na qual um dos temas culturais mais nítidos é o fato de que esse “entre”, esse “algo”, nossa “situação” e “regras” não são naturais e podem ser mudadas, reinventadas, refeitas. Como se aquele plano de relações entre as regras dadas e os caminhos imprevisíveis se redobrasse por cima de si mesmo, ocasionando a possibilidade de criar, dentro de um conjunto de regras, outras regras. Espécies de regras, por assim dizer, elevadas a um segundo grau, e assim por diante. Regras essas que, por sua vez, se ocupam exatamente de avançar por sobre aqueles caminhos antes imprevisíveis.

Como se um grande tabuleiro, que não é a linguagem, reclamasse sobre si a própria universalidade da linguagem, colonizando qualquer nova situação (e mesmo os conjuntos culturais de diferentes “situações”), qualquer modo de expressão possível.

É nesse redobramento (ou superdobramento, como diria Deleuze em Sobre a ‘morte do homem’ e o ’super-homem’, ou ainda o controle a céu aberto, no texto sobre as “sociedades de controle“) que se detectam nossos “entre” possíveis. Portanto, esse “entre”, no abismo entre dois indivíduos, pode se colorir em nossa época (essa, das regras avançando sobre qualquer caminho aberto) com diversas nuances. E o efeito é nitidamente duplo: de um lado presenciamos o desvanecimento das relações “tradicionais” e ordinárias; de outro, tem-se uma relativa “customização” individualizante das relações. Para manter o exemplo dos amantes, desvanecem e multiplicam as relações os divórcios, o tema das amásias, os múltiplos casamentos, as casas de swing e assim por diante. Não se trata de dizer que essa multiplicação das relações é “melhor” ou “pior” do que as antigas, isso não está em questão. E sim (para manter o exemplo) como o uso dos prazeres, anteriormente codificados na instituição familiar, agora se codifica e se condiciona a outros traçados igualmente prévios, na criação de todo um aparato de ordem mediática, institucional, jurídica, econômica, e até mesmo de um corpo de expertise desmistificando os amores e enunciando as formas apropriadas de amar.

Algum tempo atrás Frédéric Gros lançou um editorial, em uma revista chamada Raisons Politiques, precisamente sobre a psicologização de nossa cultura. Moscovici já comentava sobre como as noções de Freud, a de “inconsciente” por exemplo, invadiram nosso cotidiano, nosso linguajar ordinário. Mas Gros atualiza a questão. Não é à toa vermos boa parte dos jornais se concentrando em mostrar nós mesmos como o National Geografic mostrava, anos atrás, os animais na savana. As receitas cotidianas de como se comportar “apropriadamente” na situação amorosa ou de emprego são apenas o testemunho mais visível. As neurociências, nesse sentido, ocupam papel privilegiado. Como alertava Georges Canguilhem, é curiosa certa pressa dos diferentes dispositivos cotidianos: tenta-se oferecer, como verdade incontestável, resultados das ciências do cérebro ainda nem consolidados por elas mesmas. Não raramente, em usos cujas ligações com as pesquisas não passam de arbitrárias, embora os efeitos nas condutas das pessoas são bem efetivos. “Como cuidar de seu cérebro” substitui os velhos jargões do “poder do inconsciente”. O cuidado do pesquisador não acompanha alguns interesses, mais ou menos inconfessos, pela sua pesquisa. O século XIX deixou como lembrança o exemplo da moda da frenologia: no fim das contas, todos constataram ser um engodo. Mas isso não impediu toda uma expertise frenológica, enunciando ordenanças na educação e na seleção profissional. A frenologia mostrou ser mito; já as ordenanças enunciadas com base nela, foram bem reais.

Nesse sentido é muito curioso o vínculo entre a expertise, a mídia, e esse movimento das regras “colonizadoras” dos hábitos mais simples. A onda da gripe suína nos ensinou até mesmo a lavar as mãos corretamente. Os jornais chamam especialistas em segurança pública, e também psicólogos, para mostrar como um turista deve se comportar para evitar assaltos em um calçadão de turistas, ou o que um motorista deve fazer para não se estressar em meio ao excesso de carros e falta de fiscalização.

No século passado, Abebe Bikila, um etíope filho de pastores, corria maratonas descalço. Foi ouro em duas olimpíadas. É certo que ainda hoje existem heróis, verdadeiros espíritos inventivos contra qualquer adversidade. Mas nosso mundo nos mostra um outro modelo, o de Michael Phelps, sob o imperativo da especialidade: “equipamentos de alto rendimento”. Abebe Bikila corria descalço; hoje qualquer indivíduo que decide praticar um esporte acha necessário ter diante de si todo o aparato dos atletas de alto rendimento, do equipamento às vestes e até mesmo as opiniões especializadas. Não é um atleta, mas nosso olhar não mente: já começamos a ver algo estranho quando o praticante não utiliza os aparatos de um, mesmo que apenas se resuma a brincar com os filhos.

Ou senão vejamos, correndo no parque, aquele estranho senhor que definitivamente não é esportista: sem camisa, costelas protuberantes à mostra, com calção de futebol anos 80, tênis rasteiro e meião. “Nossa, que biba!”, exclama a gostosa com roupas de academia e o silicone estrategicamente posicionado. Ou a risadinha dos bombados-super-mouse de plantão. Feio e fora de forma, o velho não se codificou como alguém que deveria estar ali. Nem como “velho” ele se portava. Seus trejeitos e roupas eram provável objeto de riso até mesmo para quem a moça imagina como “biba”. Mas ele conservava sua irredutível estranheza ali, apreciando o lago e a brisa.

Quem exige o especialista e o “especializado” é, antes de tudo, nosso próprio olhar. Busca espontânea da situação mais segura (que nada tem a ver com algum perigo efetivo) e o enunciado mais correto nas situações mais triviais, da palavra “correta” para reger nosso conforto conosco e com os outros, e assim por diante.

Não por acaso, para utilizar outro exemplo e avançar no contexto, Peter Lamborn Wilson diferencia o peregrino e o turista. Aqueles encontrados por Heinrich Harrer e Peter Aufschnaiter no caminho a Lhasa, e o peregrino que segue a Gangotori apenas com as vestes do corpo e um surrão, buscam algo irredutivelmente outro ao que procuram os turistas passando de ônibus pelo mesmo lugar. Os flashes das câmeras, disparados nas janelas dos ônibus, servem como verdadeiras armaduras brilhantes, diz Lamborn. Impedem o contato e a permeabilidade a qualquer alteridade.

Alteridade que, quando não experimentada pela estranheza, é afastada pelo medo irracional do perigo. Lembremos a infeliz fatalidade, ocasionada em Babel, do pequeno pastor que alveja à distância uma turista dentro do ônibus, no meio do deserto. Obrigados a parar na vila “terrorista” (no meio do nada, sem recursos hoteleiros), os turistas vivenciam uma ambivalência notável: em primeiro lugar, a exigência de que aquele outro mundo seja o “mesmo”, desempenhe relações codificadas pela prestação de serviços e o comércio (como se no meio do oriente devesse aparecer imediatamente ambulâncias, helicópteros e autoridades); em segundo, o medo generalizado, daquela alteridade “terrorista” de perigos insidiosos. Nessa situação limite, as armaduras brilhates se desfazem.

“Entre” o turista e o local não existe “entre”. O nativo deixa de ser mais um povo exótico, objeto de gosto para exotismos étnicos de consumo descartável. Ele não é mais o carregador de bagagens, o vendedor de lembranças, o velhinho simpático ou o camareiro do hotel. Se antes o afastamento se fazia pelo riso, agora é pelo terror.

Nesse sentido, evocando a questão da alteridade, talvez nos aproximamos um pouco mais da frase inicial de Camus. Vive-se num mundo no qual o “entre”, o preenchimento do abismo entre duas pessoas, colore-se de diversos elementos: em primeiro lugar, um imperativo de inventarmos relações, mas nos recolhermos na segurança de relações já inventadas, reconhecidas paradoxalmente como nosso íntimo, próprio, individual, ídion. Imperativo acompanhando o desvanecimento das antigas relações duráveis (ou mesmo sua persistência sob um novo teor), a multiplicação de novas relações previamente codificadas, e a normalização minuciosa da mais sutil expressão.

No meio desse “entre” circula o “amor” e suas promessas, imaginárias ou efetivas. Mas, nisso tudo, resta amor? Não há como negar que os corpos, ciosos de afetos e afetações, permanecem abertos para romper as distâncias, mesmo que seja a ilusória distância entre eu e mim mesmo – e o outro não sirva a nada mais do que uma projeção imaginária correspondente a um dos temas previamente oferecidos por esse “entre”.

Esse “amor” possibilitado pelas conveniências já oferecidas não consegue ocultar, para tanto, a existência de um outro. Por mais que se avance no imprevisível e se codifiquem as relações, o outro permanece irredutível a mim e às conveniências. As regras de amor dos amantes não são dadas (apenas jogadas) pelos amantes. Igualmente, a minha adoção de um jogo com outro torna duvidoso e incerto o papel a ser jogado pelo outro, pois a referência é sempre a minha adesão ao jogo. Assim, se o jogo não satisfaz minhas exigências, posso recorrer a outro jogo, buscar outros objetos de amor. Mas sei, no fundo, que nunca jogo algum satisfará plenamente essa referência egológica e heteronômica.

O outro (e também “eu” mesmo) abre um leque de contingências irredutível a esses redobramentos de nosso mundo, redobramentos nos quais tentamos colonizar qualquer acaso. Em diversos momentos da vida, cada um constata secretamente: tanto a adesão a essas regras exteriores, quanto a exigência da satisfação própria aderindo a essas regras, não fecham as contingências e não garantem a segurança buscada. Tampouco, garantem um contato verdadeiro.

Daí, talvez, a frase de Camus, enunciada quando a Peste toma conta e todas as relações ordinárias se desfazem. Nenhum amor é bastante forte para expressar-se porque talvez os amantes podem amar por meio dessa tentativa de não apelar às relações ordinárias, significada pelo silêncio. Mas daí também o exemplo do peregrino serve como ensinamento: com as roupas do corpo e o surrão, ele sai de casa sem saber o que encontrará. Tampouco sabe quem ele será no retorno. Saindo de casa o peregrino deixa para trás o corriqueiro, acolhe o acaso, enfim abre-se ao outro. O outro, esse que acolhe o peregrino, também desempenha o papel de um peregrino às avessas. Abertos às contingências, os dois tateiam, buscam ritos, ajustam palavras, suspendem o ordinário. Entre si, ensaiam e criam um espaço comum, como no poema de Paulo Leminski:


santa é a gente
quando lá fora faz frio
e aqui dentro está quente
— entre! digo eu,
hora de ser igual,
hora de ser diferente,
entre você e entre

Texto de Marcio L. M., no Trezentos.

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terça-feira, 18 de agosto de 2009

Thamserku, Nepal

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STARTING OF A JOURNEY

Crossing the chain of roads
One after another
Far, afar to the remote mountains
And endless plains
I stepped on the present
Pyramids of illusion
Were standing shrouded me
In fact my journey
Was not started yet.

To spend on journey
I have carried
A bagful of sorrows and happiness
The experience of some gain and loss
At last,
I search myself, instead
Solitude of feelinglessness
Was embarrassing me tightly
In fact my journey
Was not started yet.

Nimesh Nikhil, Nepal

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sábado, 8 de agosto de 2009

K2

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K2

do alto da montanha mais alta
avistam-se inescaláveis horizontes
tudo aquilo que ao homem falta
abre-se como bênçãos aos montes

o corpo, como a montanha, cai,
cede aos desmandos do tempo,
contudo, esse espírito que dele sai
vai falar maravilhas desse momento

e se Deus, do alto de suas alturas,
quisesse ao altissimo k2 descer,
creio que até as almas mais impuras,
subiriam para não vê-lo padecer

tão bela seria a sua visão da Terra
que por certo encontraria quem erra,
ferindo o corpo nas escarpas da carne,
para recriá-lo em luz, beleza e charme

Thadeu W e Plínio Gonzaga

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terça-feira, 23 de junho de 2009

Descida aos infernos

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"Desço aos infernos, a descer em mim.
Mas agora o meu canto não perfura
O coração da morte,
À procura
Da sombra
Dum amor perdido.
Agora
É o repetido
Aceno do próprio abismo
Que me seduz.
É ele, embriaguez nocturna da vontade,
Que me obriga a sair da claridade
E a caminhar sem luz.
Ergo a voz e mergulho
Dentro do poço,
Neste moço
Heroísmo
Dos poetas,
Que enfrentam confiantes
O interdito
Guardado por gigantes,
Cães vigilantes
Aos portoes do mito.
E entro finalmente
No reino tenebroso
Das minhas trevas.
Quebra-se a lira,
Cessa a melodia;
E um medo triste de vergonha e assombro,
Gela-me o sangue, rio sem nascente,
One o céu, lá do alto se reflecte,
Inútil como a paz que me promete."
Miguel Torga

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segunda-feira, 18 de maio de 2009

Hamesha



The Walk, originally uploaded by From Afghanistan With Loveّ.
He walked with a staff and a rosary in his hands, and an impeccably clean turban on his head. He timed the turning of the rosary beads to coincide with his steps. He took firm, determined steps and knew where he was headed to. In the vast deserts of Samangan, at mid-day heat, he was a sight to behold.
(Samangan, Northern Afghanistan -Summer 2008 )
Uma pequena dose do que se encontra no blog, e no flickr desse sujeito.

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quinta-feira, 7 de maio de 2009

Os usos da solidão

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texto de Wilson Bueno


Em esclarecedor livro de entrevistas com o Dalai Lama, um sábio em toda extensão da palavra, o escritor francês Jean-Claude Carrière pergunta, entre outras, o que ele acha da solidão. E o líder espiritual do Tibet, no exílio, apesar de solteiro por imposição religiosa, e também por imposição religiosa com larga experiência monástica, obrigado a grandes períodos de isolamento, sorri e conclui, com cortante lucidez: "É uma arrogância sentir solidão num mundo de 6 bilhões de habitantes..."

Nós, os precários mortais, sabemos, contudo, que não é bem assim. O Dalai está sendo treinado desde a infância, através complexos exercícios búdicos, não só a acolher a solidão, como a entender uma série de outros venenos que tornam o homem moderno este fantasma em busca de porto e lenitivo. Nem sempre facilmente encontráveis, convenhamos.

Ele mesmo, o iluminado "papa" dos budistas, revela em outro trecho do livro, que suas conquistas espirituais só foram alcançadas "após treino, vigilância e implacáveis esforços". Não seríamos nós que, muita vez, atrapalhados e confusos, sequer suportamos a perda de nossos gatos e cachorros, que vamos, de uma hora para outra, posar de olímpicos campeões mentais a vencer nossos desassossegos.

A solidão, por exemplo, virou uma praga moderna. Dia desses, um amigo, pai de cinco filhos, casado há quinze anos, a casa invariavelmente cheia, me confessava, numa melancolia de causar dó, que não suportava mais a "solidão em família"... Indiquei-lhe de pronto o psicanalista João Perci Schiavon, como costumo fazer, com freqüência, nesses casos.

Entendi, solidário a ele, que das solidões esta possivelmente seja a pior delas. Foi, um tempo, minha pena e meu martírio. Embora a casa materna, os pais, o irmão e a primarada, álacres e constantes, ardia na febre de um desamparo irremediável. Nesse tempo, nem dois tonéis de vodca aplacavam o sentimento odioso.

Quantos amigos, cercados de afetos e ruídos, lançaram-se à corda ou ao gás como último alívio? Não faz uma semana, um antigo vizinho, da casa da esquina, deixou esposa, filhos, netos e noras depois de intenso período depressivo. Preferiu o silêncio eterno, que até passarinho evita, a continuar morrendo em vida.

Curiosamente, embora reclamão e insatisfeito sempre, não posso dizer, sem mentir, que me sinto sozinho. Quando alguma coisa doida dentro mexe e a noite se enche do uivo dos cães do subúrbio, embora o ruidoso escândalo, ponho Janis Joplin, em bom volume. E rouca a voz acorda os anjos do céu em Cry, Baby. Ou o enormíssimo cronópio Armstrong em What a Wonderful World. O mundo de novo, vos garanto, se enche de graça. Quem for de experimentar, que experimente.
 ***
Isso lembra um velho poema de Paulo Leminski (outro escritor curitibano):
Arte do chá
ainda ontem
convidei um amigo
para ficar em silêncio
comigo

ele veio
meio a esmo
praticamente não disse nada
e ficou por isso mesmo

 ***
 É curioso como às vezes podemos nos sentir sozinhos no meio de todos, ou acompanhados no meio de tudo.

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terça-feira, 5 de maio de 2009

Tem os sábios a necessidade de Viajar?

 
 
Tem os intelectuais a necessidade de viajar? Laozi dizia que “sem sair do umbral de casa, bem se pode conhecer os sucessos do mundo”. Sendo assim, que necessidade temos de viajar? Não tem os intelectuais necessidade de fazer viagens? Quando uma criança nasce, seus pais disparam seis flechas (uma para o céu, uma para a terra e quatro para os pontos cardeais), para abrir-lhe todos os caminhos do mundo; então, como abster-se de viajar?

Confúcio era um homem de grande inteligência. No entanto, foi para a corte de Zhou para conhecer as regras e os ritos; viajou ao estado de Qi para conhecer a musica “shao”, legado dos tempos antigos; esteve no Estado de Wei, e dali regressou para o Estado de Lu. Com todo o material que reuniu, se pôs a reconstruir esta música classificando suas diversas melodias em “ya” e “song”, segundo suas carcaterísticas. Antes de sua viagem a corte da dinastia Zhou e dos estados de Qi e de Wei, Confúcio não tinha uma idéia cabal das regras dos ritos e etiquetas, nem havia escutado a música “shao”, nem havia reconstruído as melodias ya e song. Se foi assim com um homem de tao grande inteligência, que dizer dos homens de inteligencia inferior?

A idéia de que os intelectuais podem permanecer sem fazer viagens significa que podem conhecer os sucessos do mundo sem sair do umbral de sua casa. Esta é a opinião de Laozi. A tese de Laozi colocava ênfase em cultivar o espírito e a moral pessoal deixando de lado os assuntos do Estado. Considerava que todo o Mundo estava dentro da mente do homem, e por isso sustentava que bastava buscar a verdade na mente sem a necessidade de sair para o mundo exterior.

Outros homens santos mantinham opiniões diferentes, porém. Se for certo que eles nasciam sabendo, ainda assim só possuíam os dotes e propensões que a natureza lhes deu, e por isso mesmo acreditavam que precisavam realizar um grande esforço para aperfeiçoá-las e desenvolvê-las. As montanhas, os rios, os costumes dos diferentes lugares, os sentimentos do povo, as vicissitudes do mundo, os ensinamentos dos antigos e os exemplos de conduta não podem ser conhecidos com amplitude senão por meio de viagens por aí a fora. Não se pode conhecer esta realidade sem sair de casa, mesmo que se seja um homem de grande inteligência. Por isso, se não tivermos o desejo insaciável de ver e ouvir, seremos objeto de gozação por nossa superficialidade.

Se não é suficiente ter amizade em um só canto, precisamos fazê-lo em nosso país, ou mesmo em diferentes partes do mundo; e mesmo não sendo suficiente fazer amizade com pessoas de outras partes do mundo, precisamos ainda fazê-las com os antigos. Foi justamente por isso que o grande poeta Tao Yuanming quis viajar pela bacia do rio amarelo, buscando vestígios deixados pelos homens santos antigos das épocas passadas. (Esta seria a única maneira de melhor escrever sobre eles...)

(Wu Cheng, 1249-1333) Tradução de André Bueno. Imagem acima da trilha do Monte Huashan, na China

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terça-feira, 10 de março de 2009

nuestra potencia de obrar

La tristeza, los afectos tristes son todos aquellos que disminuyen nuestra potencia de obrar. Y los poderes establecidos necesitan de ellos para convertirnos en sus esclavos. Los poderes tienen más necesidad de angustiarnos que de reprimirnos.
No es fácil ser un hombre libre: huir de la peste, organizar encuentros, aumentar la capacidad de actuación, afectarse de alegría, multiplicar los afectos que expresan o desarrollan un máximo de afirmación. Convertir el cuerpo en una fuerza que no se reduzca al organismo, convertir el pensamiento en una fuerza que no se reduzca a la conciencia.
G. Deleuze

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