sábado, 25 de maio de 2013

Então vale a pena pensar?



Quadro: Vittore Carpaccio: A visão de Santo Agostinho (início do séc. XVI)



Certa vez um monge trapista me deu um livro de Santo Agostinho para ler. Não recordo se a edição era argentina ou espanhola, do mesmo modo que o título. Talvez era a Cidade de Deus, mas poderia ser qualquer outra. O que se pode dizer com certeza é que era uma edição linda, cuidadosamente feita. Um pouco como a atmosfera daquele monastério.



É curioso, pois ao sair do mosteiro, somos novamente bombardeados pelos eventos da chamada "vida ordinária". O ritmo "aqui fora" é bem diferente de "lá dentro". De forma que, de algum modo, recordo-me da atmosfera do mosteiro, mas pouco lembro do livro que trouxe para "fora" (depois devolvido, após alguns contatos do próprio monge para reobter seu prezado livro).



Anos depois, em outra ocasião encontrei um estudioso de Santo Agostinho. Ele reclamava que, mesmo formado em filosofia e tendo belas pesquisas, não recebia a valorização que lhe convém. Ele é um pesquisador brasileiro. Em grandes países, pesquisadores são bem recompensados, não importando se suas pesquisas são as ditas "puras" (ou também "humanas", ou "artísticas" etc.) ou "aplicadas". Pesquisas aplicadas possuem "uso" imediato, mas e o que dizer das pesquisas teóricas? Que o respondam a Coréia do Sul e a Finlândia, países com alguns dos melhores índices de educação do mundo.



O "fato" é que talvez as duas situações acima (do mosteiro e da queixa do estudioso) coincidam num ponto: a reclamação do estudioso e minha pouca atenção para com o livro dizem respeito a certo ritmo, certo modo de vida no qual não colocamos em primeiro lugar aquilo mesmo que, se nos dedicássemos a dizer quais seriam as coisas mais importantes da vida, figuraria nos primeiros lugares. Uma certa dispersão da atenção, algum esquecimento da memória, certos mecanismos psíquicos curiosamente nos projetam "para fora", não de um mosteiro eventual, mas para fora de nossos corpos e - por assim dizer - existências.



A cidade é suja e não obstante habitam nela milhões de pessoas. Entrando no metrô lá estão, aos milhares, imóveis, olhando simplesmente para nada ou para algum smartphone eventual. Seria de se perguntar: onde estão todos aqueles processos psíquicos, aquelas visadas, aquelas existências, visto que por boa parte do tempo quase literalmente não estão ali?



Um conhecido disse há algum tempo: suas leituras mais importantes eram feitas no vaso sanitário, naquele momento preciso em que a "cabeça" é devolvida a si mesma. O resto do tempo se perdia em operações para fins exteriores, lá fora.



Thoreau dizia que a vida é curta, e nesse sentido seria preciso uma verdadeira "economia". Não aquela do dinheiro e do desperdício do tempo, mas uma economia na qual reconquistamos aquilo mesmo que nos seria mais "próximo". Por exemplo as ocupações massificantes: se podem ser feitas por qualquer um, não colocariam a pergunta sobre o que alguém pode fazer não igual aos demais, mas por si próprio? Pensar, por exemplo.

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segunda-feira, 6 de maio de 2013

The Pilgrimage to Santiago

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